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3. Vida de Inverno



Sentido, diz-me, que esta vida tem?
Se na janela o cinzento espesso
Afunda-me-
-no vácuo da presença de ninguém

Se as ruas são deixadas ao abandono
onde só o nevoeiro passeia com vaidade
Se não resta voz ou alma
Na solidão-
-conformada com a sua insularidade

Para quê, vida, hei-de eu continuar?
A traçar trajectos e linhas
Se a realidade é cheiro a mofo
nas paredes amarelecidas e vidros embaciados
por detrás de cortinas-
-pesadas
Sem vesga de luz
pelas suas pregas poder espreitar

Vida? Fala comigo!
Pois Tudo o que ouço é silêncio
e guinchar de dobradiças
Esta casa tal como eu-
-procura abrigo
Deste Inverno sem promessa de fim
Imersa neste mar de nuvens,
que no chão deste céu abateu

Só na caneta destas rimas desalinhadas
apaziguo este desassossego-
-na esperança
De que me vais presentear
Com um destino de historias de amor -
-fantasiadas
De finais felizes para todo o sempre
Onde se aquece o corpo de pele fria
com sensação de granizo invernoso
E fica o toque suave a aguardar
um príncipe casto e amoroso

Vida? Suplico-te!
Devo eu dar-te tempo?
Ou, devo deixar-te na paz abençoada
E dizer-te adeus assim...
Em forma de rima
No eco,
- pelo vento -
...espalhada...


Suz, 17 de Janeiro, 2018
Sherwood
Nottingham
©2018 Susanne Marie Ramos França

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