Como é que uma pessoa sensível consegue caminhar, conduzir ou simplesmente viver em ambientes urbanísticos agressivos que nos ferem os sentidos diariamente?
É urgente estudar a relação entre o urbanismo e a saúde mental. A epidemia do século XXI é uma epidemia silenciosa: Depressão!
A Organização Mundial de Saúde (OMS), estima que, uma em cada quatro pessoas em todo o globo sofre, sofreu ou vai sofrer de depressão. Pior: até 2030, poderá tornar-se na doença que mais pessoas afecta, superando o cancro e as doenças cardíacas.
Em Portugal, um em cada cinco utentes que recorrem aos cuidados de saúde primários é-lhe diagnosticada a doença no momento da consulta.
E o papel do urbanismo na depressão?
Por estranho que pareça, em Portugal existe um único estudo conhecido acerca da relação entre o urbanismo e a depressão, efectuado por Vanda Carreira (2009). O estudo incidiu sobre sete freguesias da cidade do Barreiro e recorreu a uma amostra aleatória de 65 pessoas aí residentes (39 mulheres e 26 homens), com idades compreendidas entre os 18 e os 70 anos.
Quando questionados sobre se alguma vez lhes tinha sido diagnosticada uma depressão, 42% dos inquiridos afirmaram que sim, um número que choca por ser o dobro do valor nacional. Deste grupo, mais de metade é do sexo feminino e um terço tem entre 56 e 60 anos, sendo que dois terços dos que responderam afirmativamente tiveram um diagnóstico positivo no espaço de dois anos.
Uma das relações interessantes encontradas foi que quanto mais andares o prédio tivesse maiores seriam as hipóteses de encontrar nele alguém a quem foi diagnosticada uma depressão. Uma conclusão que segue em linha com o que foi encontrado noutros estudos internacionais.
A isto junta-se a constatação de que “os indivíduos que vivem em habitações que não têm acesso directamente para a via pública” têm “menor probabilidade” de sofrer da doença. Quanto aos espaços verdes, parece não haver dúvidas de que estes são vistos como santuários de protecção por quem sofre de depressão, com a preferência a recair nos jardins e parques que estão mais bem elaborados ou estruturados, em detrimento dos espaços mais pequenos ou mal concebidos.
Sendo assim, tal como diz a investigadora: “as relações existentes são o fruto da aplicação das políticas públicas, locais e centrais que não assumem o Homem na sua globalidade física, psíquica e social”, além de que “ignoram o conceito de saúde estabelecido pela OMS”.
Até quando vamos permitir que isto aconteça?
Um Abraço,
Susanne M. França
©2013 Susanne Marie Ramos França
